A banana plantada no Cariri
é vendida em várias partes do Nordeste, mas tem quatro núcleos de distribuição: Teresina (PI), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e São Luís (MA). FOTO: Antonio Rodrigues |
Barbalha. O "cheiro
de mel que o vento traz", como canta Alcymar Monteiro em "Verdes
Canaviais", diminuiu na última década. Apenas cinco engenhos mantêm a
produção de cana-de-açúcar neste Município do Cariri cearense. Dois fabricando
apenas rapadura, e três que, além do doce, fazem a cachaça, batida e alfenim.
Todos trabalhando somente por encomenda.
A
tradição da cana-de-açúcar diminuiu muito em Barbalha, que, até a década de
1960, possuiu cerca de 100 engenhos. Mas este grande número vem desde o período
colonial, quando iniciou a produção no Cariri motivada pela quantidade de água
encontrada nas fontes da região. Por meio de valas, ela deslizava em direção
aos canaviais, molhando as áreas de baixio. Este sistema também era utilizado
na policultura, produzindo arroz, milho e mamona.
Os
primeiros engenhos instalados na região eram de madeira e dominaram o setor até
o século XVIII, quando foram substituídos pelos engenhos de ferro, movidos por
força hidráulica ou animal. Pela dependência da propriedade dispor de água, a
moenda movimentada por bovinos ganhou mais difusão no Cariri.
Entre
2002 e 2012, 13 engenhos fecharam as portas em Barbalha. A maioria era herança
de pai ou avô, produtor de rapadura. Todos com mais de 10 anos de
funcionamento. É o caso Jorge Garcia, que cuidou do engenho de seu avô, José de
Sá Barreto Garcia, depois que ele faleceu, seguindo os costumes da família e
fabricando o produto no Sítio Bulandeira. Porém, em 2011, ele largou a
cana-de-açúcar.
"Fui
um dos maiores produtores de rapadura de Barbalha. Larguei porque o comércio
diminuiu muito. Também tinha uma perseguição muito grande dessas leis, sem nós
termos condições de pagar as custas que o Governo exigia. O pessoal diminuiu
muito o consumo de rapadura. Na época do algodão, saía muito, porque tinha
muito operário comendo", lembra.
A
economista Denize Paixão, que pesquisou a produção na primeira década de 2000,
acredita que a decadência dos engenhos está associada, principalmente, à
dificuldade de comercialização, baixa lucratividade, evasão de mão de obra,
falta de recursos, além das exigências do Ministério do Trabalho de
regularização do pessoal ocupado, melhoramento nas unidades produtivas, de
condições de trabalho e higiene do produto.
Hoje,
os cinco engenhos, quase que vizinhos, localizados na entrada da cidade, só
funcionam dois dias na semana. A maior parte do movimento acontece na época das
romarias, na cidade vizinha, Juazeiro do Norte. Muitos visitantes vão até as
fábricas de rapadura e compram, inclusive cachaças e doces fabricados de outras
cidades.
A
estrutura do engenho de cana-de-açúcar se mantém, apesar do equipamento ter se
deteriorado com o tempo, como o trator e o caminhão que deixava a carga dos
produtos. "Está tudo aí, se quiser moer cana amanhã, eu vou moer. Tá tudo
do mesmo jeitinho", garante Jorge.
No
auge da rapadura, comprou carro e fez sua casa. Com nostalgia, lembra todo o
processo de produção do doce. "Moía a cana, extraia o caldo, a 'garapa',
depois saía para as caldeiras, que levava fogo, aí fazia o processo até o mel
'cachear', mexendo na gamela, para depois levar para as formas", conta.
Com
a queda da rapadura, Jorge Garcia resolveu plantar banana, uma cultura que vem
ficando cada vez mais comum no Cariri. "Planto para a terra não ficar
ociosa. São duas tarefas só para entreter", brinca. Da época em que
trabalhava com até 50 pessoas, hoje o agricultor faz tudo sozinho e vende a
fruta para pequenos comerciantes locais, que compram na porta do sítio.
Usina
abandonada
A
dez quilômetros dali, na Usina Manoel Costa Filho, na saída de Barbalha para
Missão Velha, na beira da CE-293, a paisagem foi ocupada por bananeiras há
quatro anos. O equipamento, adquirido pelo Governo do Estado em 2013, por R$
15,4 milhões, ainda não foi reativado e sequer há alguma expectativa de voltar a
produzir açúcar ou etanol. Criado em 1973, o prédio está desativado há mais de
uma década.
A
área em volta da Usina, com 65 hectares, foi comprada pelo empresário João
Landim. Segundo ele, o terreno estava penhorado pelo Banco Industrial e
Comercial, e resolveu ampliar a plantação de bananas que três anos antes
começou no distrito de Missão Nova, em Missão Velha. Sua empresa, a Paraíso
Verde, produz em cerca de 500 hectares nos dois municípios. "Como meus
pais eram agricultores e sempre gostei, resolvi apostar. Mas não via nada que
fosse viável. Conversando com amigos, indicaram a banana como bom
negócio", explica.
Dificuldades
No
início, teve dificuldades para escoar os produtos, batendo de porta em porta
nos supermercados. "Teve supermercados que fomos 20 vezes oferecer. A
gente não tinha essa credibilidade, mas, aos poucos, fomos conseguindo, a
quantidade aumentando. Hoje, estamos vendendo 80% para supermercados. Alguns
vieram visitar e começaram a comprar", completa.
A
banana plantada no Cariri é vendida em várias partes do Nordeste, mas tem
quatro núcleos de distribuição: Teresina (PI), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e
São Luís (MA). Em 2009, 60 funcionários deram início à Paraíso Verde, que hoje
emprega 350 pessoas. A cidade de Missão Velha, por exemplo, é a oitava maior
produtora de banana do Brasil com 2,8 mil hectares de plantação e quase 90 mil
toneladas da fruta colhidas por ano.
Adaptação
No
entanto, o agrônomo Camilo Cabral explica que o solo na região não é ideal para
a banana, que aumenta o custo da produção em relação a algumas áreas que também
produzem o fruto no Brasil.
"São
predominantemente ácidos e bastante arenosos. Como tem sistema de irrigação,
faz alteração do solo e adiciona matéria orgânica. A gente também faz as
coletas de solo para fazer análises e recomenda algumas correções para elevar o
nutriente para a planta", afirma.
Por
outro lado, a região é favorecida para a fruticultura por chover acima da média
em relação a outras regiões do Estado, além de possuir muita água no aquífero,
acessada por meio de poços profundos.
"A
produção da fruticultura tem diminuído em alguns estados por falta de água. Com
isso, as empresas têm migrado de outras regiões do Ceará, algumas fechando as
portas ou diminuindo a área plantada, enquanto o Cariri está se
destacando", acredita o agrônomo. (Diário do Nordeste)
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