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Desde a década de 1960, a produção de utensílios a partir do metal se intensifica. FOTO: Antonio Rodrigues |
Segundo
o empresário Adelaído Pontes, diretor regional do Sindicado das Indústrias
Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará (Simec), a
queda foi significativa, mas demonstra que as empresas faturavam muito em 2016.
Em algumas delas, o ganho anual que chegava de R$ 1,3 milhão passou a R$ 800
mil. Sua fábrica, que empregava 120 pessoas, hoje possui 55 funcionários.
"Teve uma queda bem acentuada. A gente está passando momentos
difíceis", lamenta.
Além
disso, Adelaído reclama da falta de apoio do poder público com as empresas do
segmento que não oferecem auxílios para voltarem a crescer. Ele lamenta que não
tenha sido efetivada a ideia de criar um polo industrial que reuniria todas as
fábricas de alumínio em um só local, construído em terreno doado pelo Governo
do Estado. Lá, todas as empresas do setor estariam lado a lado, diminuindo o
custo do transporte de insumos. "O único distrito industrial está
abandonado. Não tem infraestrutura", acredita. No último dia 26 de abril,
o Simec reuniu empreendedores do alumínio para discutir o seu fortalecimento.
Como
boa parte dos setores industriais de Juazeiro do Norte, acreditam que o Padre
Cícero também foi o principal incentivador da produção a partir do alumínio com
a fabricação e comercialização de candeeiros. Após criar a romaria de Nossa
Senhora das Candeias e a popular "procissão de luz", o mercado foi
reaquecido. Desde a década de 1960, a produção de utensílios domésticos a
partir do metal se intensifica pela venda nos caminhões e pequenos carros no
interior do Brasil, prática que continua até hoje e é responsável por 80% do
escoamento de panelas, copos, bacias, leiteiras, etc.
No
início, a produção era bem artesanal, hoje, com o auxílio das prensas
hidráulicas, é possível fabricar mais 1.500 peças por dia numa só máquina. Além
disso, o torno conta com o comando numérico computadorizado (CNC), que permite
o controle dos aparelhos. "Antes era só o torninho, mas que ainda hoje
continua. Dificilmente se monta uma fábrica sem um torno, porque tem peças que
precisam dele", explica Adelaído, que começou em 2002, no Crato,
realizando reciclagem de alumínio para fazer a panela fundida.
Diferente
dos outros setores, os utensílios de cozinha costuram gerar muitos empregos
indiretos. "Para cada emprego gerado direto, se gera quatro ou cinco
indiretos", enumera o empresário. Estas pessoas são aquelas que mantêm a
tradição de carregar caminhões e carros e sair de porta em porta pelos estados
brasileiros. Da Adenox, fábrica de Adelaído, chegam peças em Amapá, Rondônia,
Pará, Roraima, Mato Grosso e também para todos estados do Nordeste. "Cada
caminhão que sai, tem mais dois, três, cinco carros de apoio ou motos.
Geralmente, um caminhão sai em média com 30 funcionários", completa.
O
número de "crediaristas", como se popularizou estes vendedores, é
bastante alto. São poucas empresas juazeirenses que estão presentes em grandes
varejos e atacados. "A gente trabalha com demanda, com faturamento. Chega
os pedidos e trabalha em cima deles", conta o empresário. A menor parte
das peças são vendidas em pequenas lojas que compram através de representantes
comerciais. Em Juazeiro do Norte, por exemplo, há inúmeros comércios que têm
como principal cliente o romeiro. O alumínio local chega a ser a mais comum "lembrança"
da Terra do Padre Cícero.
"É
uma outra vertente. O comércio no Centro é feito pelos chamados informais, que
são a grande maioria. Eles vendem e repassam. O romeiro, geralmente, tem o
poder aquisitivo um pouco mais baixo e, como Juazeiro do Norte já tem a fama de
ser uma China brasileira, as pessoas vêm para cá com intuito de comprar mais
barato. Lá se vende de tudo, mas o alumínio é o mais popular e acessível pelo
preço. É o que mais vende em Juazeiro do Norte", conta Adelaído.
Romarias
Nas
ruas próximas à Igreja Matriz, principalmente entre setembro e fevereiro, época
das grandes romarias, um mar prateado reluz nas calçadas. Dezenas de ambulantes
e comerciantes se amontoam em pequenos espaços, seja em lojas, barracões,
banquinhas ou, até mesmo, estirado no papelão para disputar a atenção dos
visitantes.
Os
itens ficam lado a lado com os ranchos e pousadas que acolhem os romeiros. O
produto mais procurado, segundo os lojistas, é o caneco ilustrado de times de
futebol. Elas são personalizadas com o nome que o cliente desejar. "A
procura é grande. Sai bastante como lembrança", diz o comerciante Josivan
da Costa.
Há
cinco anos, Josivan começou a vender produtos de alumínio. Em sua loja, na Rua
da Matriz, é possível encontrar peças de R$ 1 a R$ 100, desde pequenos copos a
jogo de panelas completo. "O período mesmo forte é nas romarias. É mais
barato, porque o alumínio, hoje em dia, está em todos os estados praticamente,
sendo que, em Juazeiro, como as fábricas concentram aqui, são mais em conta",
explica.
Já
Héricles Rodrigues, que divide seu comércio com o rancho há quatro anos, além
de revender as peças locais, compra de Catolé do Rocha (PB). "Tem um preço
acessível e o pessoal que vem de fora é humilde. O alumínio aqui tem um preço
muito bom e faz com que os romeiros levem lembrança para os familiares, comprar
as coisas para dentro de casa", acrescenta.
No
entanto, fora dessa época, as vendas são muito menores. As lojas ficam
praticamente vazias. O último período em que houve vendas significativas
aconteceu no último dia 20 de julho, quando alguns romeiros aproveitam para
visitar Juazeiro do Norte no aniversário de morte do Padre Cícero. Mesmo assim,
muitos visitantes fazem questão de ir à cidade movidos pela fé, mas sem a mesma
condição financeira de comprar como em anos anteriores. "No período de
romaria é como se trabalhássemos dobrado para o tempo parado", descreve
Héricles.
A
diferença de público consumidor é a grande diferença entre o Cariri e os três
principais polos do Brasil: Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná. De acordo
com Adelaído, em termos de máquinas, equipamentos e tecnologias, as empresas
locais ainda não estão no mesmo patamar, "mas também não está tão
longe", diz. Por outro lado, o poder aquisitivo nas outras regiões é melhor.
"Já querem uma panela diferenciada, com teflon, que tenha espessura
melhora, acabamento mais perfeito", completa. Ainda assim, ressalta que,
através dos crediaristas, as peças fabricadas no Ceará chegam ao Sul e Sudeste
para as pessoas mais pobres.
A
matéria-prima para fabricação costuma vir de São Paulo, mas, hoje, Pernambuco e
Bahia já oferecem insumos para as indústrias locais. Até mesmo em Juazeiro do
Norte há uma pequena laminação que já atende certa demanda. As alças de
baquelite são trazidos do território paulista, mas já são produzidas em Missão
Velha. Enquanto as alças de alumínio são fornecidas por pequenas fundições na
própria Terra do Padre Cícero.
Certificação
Desde
a publicação das portarias de nº 398 e 419, em 2012, pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), as empresas que fabricam
utensílios utilizados em forno e fogão são obrigadas a ter uma certificação.
Para as panelas de pressão já são compulsórias. Agora, todos os utensílios
domésticos exigirão o mesmo selo. Até abril de 2019, as fábricas terão que se
adaptar. No Cariri, sete já são certificadas pelas panelas de pressão. Agora,
terão que encaminhar os outros produtos para entrar no processo. (Diário do
Nordeste)
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