Desde a década de 1960, a produção de utensílios a partir
do metal se intensifica. FOTO: Antonio Rodrigues
Juazeiro do Norte. Há dois anos, o faturamento anual com o alumínio chegava a R$ 144 milhões nas três principais cidades do Cariri. Na época, 130 fábricas formais e mais 50 informais alavancava a região como o 4º maior polo deste setor no Brasil - o primeiro no Nordeste na fabricação de panelas. Este "título" permanece, mas a crise econômica dos últimos anos afetou significativamente o setor. Hoje, o número de indústrias somadas chega a quase 70. De 4 mil empregos diretos gerados, em 2016, - só atrás do setor de calçados - agora, são 2 mil.

Segundo o empresário Adelaído Pontes, diretor regional do Sindicado das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará (Simec), a queda foi significativa, mas demonstra que as empresas faturavam muito em 2016. Em algumas delas, o ganho anual que chegava de R$ 1,3 milhão passou a R$ 800 mil. Sua fábrica, que empregava 120 pessoas, hoje possui 55 funcionários. "Teve uma queda bem acentuada. A gente está passando momentos difíceis", lamenta.

Além disso, Adelaído reclama da falta de apoio do poder público com as empresas do segmento que não oferecem auxílios para voltarem a crescer. Ele lamenta que não tenha sido efetivada a ideia de criar um polo industrial que reuniria todas as fábricas de alumínio em um só local, construído em terreno doado pelo Governo do Estado. Lá, todas as empresas do setor estariam lado a lado, diminuindo o custo do transporte de insumos. "O único distrito industrial está abandonado. Não tem infraestrutura", acredita. No último dia 26 de abril, o Simec reuniu empreendedores do alumínio para discutir o seu fortalecimento.

Como boa parte dos setores industriais de Juazeiro do Norte, acreditam que o Padre Cícero também foi o principal incentivador da produção a partir do alumínio com a fabricação e comercialização de candeeiros. Após criar a romaria de Nossa Senhora das Candeias e a popular "procissão de luz", o mercado foi reaquecido. Desde a década de 1960, a produção de utensílios domésticos a partir do metal se intensifica pela venda nos caminhões e pequenos carros no interior do Brasil, prática que continua até hoje e é responsável por 80% do escoamento de panelas, copos, bacias, leiteiras, etc.

No início, a produção era bem artesanal, hoje, com o auxílio das prensas hidráulicas, é possível fabricar mais 1.500 peças por dia numa só máquina. Além disso, o torno conta com o comando numérico computadorizado (CNC), que permite o controle dos aparelhos. "Antes era só o torninho, mas que ainda hoje continua. Dificilmente se monta uma fábrica sem um torno, porque tem peças que precisam dele", explica Adelaído, que começou em 2002, no Crato, realizando reciclagem de alumínio para fazer a panela fundida.

Diferente dos outros setores, os utensílios de cozinha costuram gerar muitos empregos indiretos. "Para cada emprego gerado direto, se gera quatro ou cinco indiretos", enumera o empresário. Estas pessoas são aquelas que mantêm a tradição de carregar caminhões e carros e sair de porta em porta pelos estados brasileiros. Da Adenox, fábrica de Adelaído, chegam peças em Amapá, Rondônia, Pará, Roraima, Mato Grosso e também para todos estados do Nordeste. "Cada caminhão que sai, tem mais dois, três, cinco carros de apoio ou motos. Geralmente, um caminhão sai em média com 30 funcionários", completa.

O número de "crediaristas", como se popularizou estes vendedores, é bastante alto. São poucas empresas juazeirenses que estão presentes em grandes varejos e atacados. "A gente trabalha com demanda, com faturamento. Chega os pedidos e trabalha em cima deles", conta o empresário. A menor parte das peças são vendidas em pequenas lojas que compram através de representantes comerciais. Em Juazeiro do Norte, por exemplo, há inúmeros comércios que têm como principal cliente o romeiro. O alumínio local chega a ser a mais comum "lembrança" da Terra do Padre Cícero.

"É uma outra vertente. O comércio no Centro é feito pelos chamados informais, que são a grande maioria. Eles vendem e repassam. O romeiro, geralmente, tem o poder aquisitivo um pouco mais baixo e, como Juazeiro do Norte já tem a fama de ser uma China brasileira, as pessoas vêm para cá com intuito de comprar mais barato. Lá se vende de tudo, mas o alumínio é o mais popular e acessível pelo preço. É o que mais vende em Juazeiro do Norte", conta Adelaído.

Romarias
Nas ruas próximas à Igreja Matriz, principalmente entre setembro e fevereiro, época das grandes romarias, um mar prateado reluz nas calçadas. Dezenas de ambulantes e comerciantes se amontoam em pequenos espaços, seja em lojas, barracões, banquinhas ou, até mesmo, estirado no papelão para disputar a atenção dos visitantes.

Os itens ficam lado a lado com os ranchos e pousadas que acolhem os romeiros. O produto mais procurado, segundo os lojistas, é o caneco ilustrado de times de futebol. Elas são personalizadas com o nome que o cliente desejar. "A procura é grande. Sai bastante como lembrança", diz o comerciante Josivan da Costa.

Há cinco anos, Josivan começou a vender produtos de alumínio. Em sua loja, na Rua da Matriz, é possível encontrar peças de R$ 1 a R$ 100, desde pequenos copos a jogo de panelas completo. "O período mesmo forte é nas romarias. É mais barato, porque o alumínio, hoje em dia, está em todos os estados praticamente, sendo que, em Juazeiro, como as fábricas concentram aqui, são mais em conta", explica.

Já Héricles Rodrigues, que divide seu comércio com o rancho há quatro anos, além de revender as peças locais, compra de Catolé do Rocha (PB). "Tem um preço acessível e o pessoal que vem de fora é humilde. O alumínio aqui tem um preço muito bom e faz com que os romeiros levem lembrança para os familiares, comprar as coisas para dentro de casa", acrescenta.

No entanto, fora dessa época, as vendas são muito menores. As lojas ficam praticamente vazias. O último período em que houve vendas significativas aconteceu no último dia 20 de julho, quando alguns romeiros aproveitam para visitar Juazeiro do Norte no aniversário de morte do Padre Cícero. Mesmo assim, muitos visitantes fazem questão de ir à cidade movidos pela fé, mas sem a mesma condição financeira de comprar como em anos anteriores. "No período de romaria é como se trabalhássemos dobrado para o tempo parado", descreve Héricles.

A diferença de público consumidor é a grande diferença entre o Cariri e os três principais polos do Brasil: Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná. De acordo com Adelaído, em termos de máquinas, equipamentos e tecnologias, as empresas locais ainda não estão no mesmo patamar, "mas também não está tão longe", diz. Por outro lado, o poder aquisitivo nas outras regiões é melhor. "Já querem uma panela diferenciada, com teflon, que tenha espessura melhora, acabamento mais perfeito", completa. Ainda assim, ressalta que, através dos crediaristas, as peças fabricadas no Ceará chegam ao Sul e Sudeste para as pessoas mais pobres.

A matéria-prima para fabricação costuma vir de São Paulo, mas, hoje, Pernambuco e Bahia já oferecem insumos para as indústrias locais. Até mesmo em Juazeiro do Norte há uma pequena laminação que já atende certa demanda. As alças de baquelite são trazidos do território paulista, mas já são produzidas em Missão Velha. Enquanto as alças de alumínio são fornecidas por pequenas fundições na própria Terra do Padre Cícero.

Certificação
Desde a publicação das portarias de nº 398 e 419, em 2012, pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), as empresas que fabricam utensílios utilizados em forno e fogão são obrigadas a ter uma certificação. Para as panelas de pressão já são compulsórias. Agora, todos os utensílios domésticos exigirão o mesmo selo. Até abril de 2019, as fábricas terão que se adaptar. No Cariri, sete já são certificadas pelas panelas de pressão. Agora, terão que encaminhar os outros produtos para entrar no processo. (Diário do Nordeste)

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