A
vegetação nativa do Ceará ao longo dos últimos anos tem se tornado cada vez
menos dominante no Estado. Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente (Sema),
até o fim do ano passado, apenas 59% dos biomas daqui continuaram intactos. A
falta de políticas públicas para impedir a popularização de espécies de plantas
invasoras é considerada por especialistas um dos principais motivadores desse
problema.
Visando
mudar este cenário, o Governo do Estado anunciou, neste mês, através de
publicação no Diário Oficial, instruções normativas em consonância com o
Programa de Valorização das Espécies Vegetais Nativas - Lei Estadual
16.002/2016. A publicação orienta os gestores de viveiros públicos sobre a não
produção de espécies exóticas invasoras e a também recomenda uma lista de
espécies nativas para ações de florestamento e reflorestamento no Ceará.
O
objetivo das normas é estimular o uso de espécies nativas em projetos de
plantios de árvores, para formar florestas, arborização urbana e paisagismo,
bem como orientar gestores de viveiros públicos municipais quanto a produção
das mesmas em oposição à produção das exóticas e das exóticas invasoras.
Os
referidos instrumentos foram elaborados e serão atualizados periodicamente pelo
Grupo de Trabalho Multiparticipativo (GTM), instituído por meio do Decreto
Estadual Nº 32.146 de 27 de janeiro de 2017 e composto por 14 instituições
públicas responsáveis por avaliar, elaborar e implementar o Projeto de
Florestamento, Reflorestamento e Educação Ambiental no Estado do Ceará.
De
acordo o secretário do Meio Ambiente, Artur Bruno, as novas determinações são
propostas pelo Programa de Valorização das Espécies Vegetais Nativas, que
estimula e incentiva os municípios do Ceará a elaborarem os seus planos de
arborização utilizando espécies vegetais nativas, evitando as exóticas
invasoras, como aconteceu em passado recente.
Ele
lembra que o processo de invasão de espécies exóticas no Estado começou ainda
nos anos 80. "Lamentavelmente, nas últimas décadas no Ceará, em Fortaleza,
e no Interior, as gestões fizeram programas de arborização com árvores
inadequadas para a fauna e flora. Basta ver o Nim, árvore mais plantada por
gestões municipais nas décadas passadas. Ele é muito prejudicial às demais
plantas do Estado. Isso gera prejuízos. Dificilmente você vai ver um fruto ou
uma ave, por exemplo, em uma vegetação como ela".
Além
da questão ambiental, Artur Bruno ressalta também importância de vegetação como
marca cultural. "Temos que valorizar as árvores nativas, que são muitos
bonitas e também são um patrimônio cultural. Contamos com o apoio das empresas
privadas, sindicatos e toda sociedade civil para mudar esta realidade. Estamos
trabalhando também forte nisso. Por exemplo, neste ano, vamos concluir o
plantio de 30 mil mudas na nascente do Rio Pacoti. Além disso, o Parque do Cocó
ganhará 40 mil mudas através de doação da Construtora C. Rolim. Outras 2 mil
mudas serão doadas pela Unimed para serem plantadas no Parque Botânico",
revela .
Reflorestamento
As
matas ciliares do Rio Jaguaribe, norte do Estado, também passarão por um
processo de reflorestamento, através de uma parceria entre a Sema e secretarias
de recursos hídricos. A luta contra o processo de desertificação no Interior
também será prioridades nos próximos anos. Outro foco da gestão é a recuperação
de viveiros regionais.
"Todas
essas ações fazem parte de um programa chamado Ceará Mais Verde. O objetivo
principal dele é recuperar áreas que foram desmatadas. As áreas urbanas também
serão contempladas. Queremos recuperar o máximo possível nossa vegetação",
finaliza.
Maria
Iracema Bezerra Loiola, do Laboratório de Sistemática e Ecologia Vegetal
(Lassev), do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC),
explica que a proliferação de plantas invasoras é, de fato, uma preocupação.
"Elas causam alteração no meio ambiente em que vivem. Caso se alastrem, a
probabilidade deque as espécies nativas sejam substituídas é muito grande. As
plantas invasivas se popularizaram nas últimas décadas porque elas têm um
desenvolvimento muito mais rápido do que os biomas naturais daqui. Outro
problema sério é a forma incorreta de utilização do solo na agricultura no
Estado. Isso gera processo de erosão, intemperismo do solo, entre outros
fenômenos. Temos que conscientizar, principalmente, os agricultores a evitar
queimadas e técnicas que desgastem indecisamente o solo para não deixá-lo
danificado, pois isso afeta toda a cadeia", aponta.
Atraso
Já
Oriel Herrera Bonilla, professor do Curso de Biologia e integrante do
Laboratório de Ecologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acrescenta
que o Brasil e, consequentemente, o Nordeste e o Ceará, estão atrasados em
políticas públicas que protegem as espécies de plantas nativas. "A nossa
Caatinga está cheia de exemplos de plantas exóticas invasoras. A Carnaúba, por
exemplo, é uma das árvores que mais têm sofrido pela presença de uma planta
conhecida popularmente como unha-do-diabo. Ela floresce e cresce rapidamente,
sufocando a carnaúba".
Saiba
mais
Planta
nativa
É
uma planta silvestre ou autóctone, que é nativa ou natural de um determinado
ecossistema ou região.
Planta
Exótica
Toda
espécie que se encontra fora de sua área de distribuição natural, isto é, que
não é originária de um determinado local.
Planta
Exótica Invasora
É
definida como uma espécie exótica que prolifera sem controle e passa a
representar ameaça para espécies nativas e para o equilíbrio dos ecossistemas
que passa a ocupar e transformar a seu favor. Pode representar risco até às
pessoas. (Diário do
Nordeste)
Postar um comentário