Foram preparadas algumas instalações diferenciadas, como trilha
com paletes de madeira, uma réplica do Rio Batateiras e percurso
com cordas para cegos. FOTO: Antonio Rodrigues
Crato. Com área de 93,52 ha, o Parque Estadual Sítio Fundão está sendo pioneiro no projeto de acessibilidade em suas trilhas. A Unidade de Conservação (UC), que preserva sua mata nativa, representando os biomas da Caatinga e Cerrado, além de conter uma diversidade de animais silvestres dentro da área urbana do Município, agora quer ampliar os visitantes, oferecendo mais facilidade de locomoção e interação para pessoas com algum tipo de limitação motora ou condição especial. Por enquanto, são pouco mais de 250 metros de trecho adaptado, que ainda serão expandidos.

A ação "Trilha dos sentidos: acessibilidade e interação. Desafio sim, dificuldade não", realizada na manhã dessa sexta-feira (25), reuniu crianças cratenses de escolas públicas com necessidades especiais como cadeirantes, deficientes visuais, surdos e com mobilidade reduzida. O objetivo é que estas pessoas possam usufruir da natureza, bem como possibilitar que o Parque possa trabalhar a inclusão delas em ambientes naturais.

O Sítio Fundão preparou algumas instalações diferenciadas, como trilha com paletes de madeira, uma réplica do Rio Batateiras e percurso com cordas para cegos. A ação também contou com intérpretes de libras. Além disso, o aplicativo para celular Ecomapss, que funciona na UC fornecendo informações sobre a flora e bens históricos de lá, agora conta com plaquinhas em braile descrevendo o nome popular e o científico das plantas.

Segundo o professor João Abreu, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) de Crato, um dos desenvolvedores do aplicativo, a adaptação do aplicativo surgiu pela necessidade de passar mais informações do Parque para todas as pessoas. "Nós estamos ampliando o leque de pessoas. O papel dele se torna muito mais importante, pois pessoas que têm essa limitação vão poder ter a autodescrição pelo aplicativo", justifica.

A trilha acessível faz parte das ações que comemoram o aniversário de 10 anos de criação do Parque Estadual Sítio Fundão, que acontecem desde janeiro. "Como recebemos uma diversidade de visitantes, dentre eles, estão pessoas com algumas limitações ou necessidades especiais como cadeirantes, criamos a trilha dos sentidos, que é adaptada a esse público", explica o assessor técnico da Secretaria de Meio Ambiente, Jorge Macedo.

Jorge explica que a réplica do Rio Batateiras, que corta a UC, foi criada a poucos metros para que as pessoas não precisam ir até ele, mas possam sentir essa água, escutar seu barulho, fazer um passeio, meditação, "ter seu contato com a natureza, porque isso traz qualidade de vida e é um lazer saudável", completa.

Para ajudar na construção do trajeto, o advogado Jefferson Santana, que é cadeirante, participou do projeto testando e dando dicas de como melhorar a mobilidade sem degradar o meio ambiente. "A acessibilidade é algo que está engatinhando. Costumo dizer que o litoral tem praias acessível e estamos dando um passo para ter as trilhas acessíveis no Interior. E o Sítio Fundão está dando esse grande passo", exalta.

O estudante Anderson Germano, que perdeu a visão aos nove anos, gostou da experiência, principalmente, da adaptação nas placas em braile, que descrevem os nomes popular e científico das plantas. "Já tinha vindo aqui na caminhada tradicional, até determinado ponto, sem acessibilidade e interação. Hoje senti o chão, os lados, Aqui é mais sossegado, o ar é diferente", descreve.

Mãe de Rhyan Pablo, 14, a dona de casa Ana Paula de Carvalho ficou emocionada com a oportunidade de levar seu filho, em cadeira de rodas, até o Parque que costumava passear na sua infância e adolescência. "Eu vinha muito a pé da escola e a gente sente falta. Hoje estou realizada por ele, estou emocionada. Emoção de mãe. Meu marido faz trilha aqui sozinho. A partir de hoje, a gente vai poder vir juntos. Tendo acessibilidade, agora a gente vai para todo o canto", garante.

Apoio
O casal Guilherme Simões e Juliana Tozzi, naturais de São José dos Campos (SP), doou uma cadeira de uma roda adaptada para o Parque. Os dois são responsáveis por projetar o equipamento, batizado de "Juliete", para que pessoas com mobilidade reduzida possam percorrer trilhas estreitas e subir pedras de difícil acesso. A entrega acontece neste sábado (26).

O projeto surgiu após a contadora Julianna Tozzi, na época com 33 anos, ser diagnóstica com uma síndrome degenerativa no cerebelo que a deixou em uma cadeira de rodas e algumas limitações. Ela e o marido eram acostumados a praticar esse tipo de esporte e já tinham percorrido mais de 30 trilhas. Por causa deste problema de saúde, Guilherme Simões, que é engenheiro, com ajuda de Hidel Castro, desenvolveu a cadeira e eles voltaram a percorrer o Brasil tornando os trajetos mais acessíveis.

Unidade de Conservação
O Parque Estadual Sítio Fundão fica vizinho ao bairro mais popular de Crato, o Seminário, e tem atraído, cada vez mais, um bom número de pessoas. No ano passado, 5 mil pessoas o visitaram. A Unidade de Conservação faz parte do Geossítio Batateira, vinculado ao Geopark Araripe. É um dos lugares ideais para fazer trilhas curtas, a pé ou de bicicleta, e acampamentos. Dentro dele também há bens históricos tombados pela Secretaria de Cultura do Estado, como a Casa de Taipa (Centro de Visitantes), a parede de pedras e as ruínas de um engenho do Século XIX, movido por tração animal. Ele fica aberto a visitação pública entre 6h e 8h e das 16 às 18h. Não é cobrado ingresso.          (Diário do Nordeste)

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