Antes
que se falasse em mudanças nas regras da Previdência, depender exclusivamente
do benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) já não era uma boa
opção para garantir o sustento no futuro, segundo avaliam especialistas. Apesar
dessa lógica, 84% dos funcionários de grandes e médias empresas no Estado
dependem apenas do INSS na aposentadoria, segundo a Associação Brasileira de
Educadores Financeiros (Abefin).
Esse
comportamento revela uma séria defasagem da população brasileira em educação
financeira, indica o estudo. De fato, 83% das pessoas entrevistadas no Ceará
não fazem qualquer tipo de investimento por não haver sobras após pagar as
contas mensais. No cenário nacional, o levantamento aponta uma proporção um
pouco menor, mas ainda alta, de 80,70%. Ao todo, o estudo avaliou as respostas
de funcionários de grandes e médias empresas brasileiras, incluindo o Ceará.
Para Reinaldo Domingos, presidente da Abefin, a falta do costume de poupar gera forte impacto negativo, uma vez que muitos idosos hoje, por não terem se preparado financeiramente, acabam dependendo apenas do INSS ou dos próprios familiares.
“Não
temos uma sustentação financeira dos nossos antepassados, com os aposentados
tendo de se apoiar em outros familiares. E as pessoas também têm uma
dificuldade muito grande de fazer uma reserva financeira”, pondera. “Nós ainda
temos o problema de que o INSS não nos dará uma aposentadoria estável, então,
construir uma reserva financeira é crucial”.
Planejamento
Além
da preocupação com o sistema previdenciário brasileiro, é importante que a
pessoa entenda quanto deseja poupar e receber com o resultado desses
investimentos a longo prazo. Mas para isso, de acordo com Domingo, é preciso
dedicar parte do tempo para a busca de informações, entender os conceitos de
planejamento financeiro e debater ideias com os familiares.
“Quanto
mais cedo eu começar, quanto mais tempo eu tiver para construir, menor vai ser
o meu sacrifício. Ou seja, é possível começar hoje, mas é preciso tomar a
decisão. Para isso, você precisa, dentro do seu lar, reavaliar os gastos para
canalizar os recursos para uma aposentadoria complementar. É preciso começar a
represar parte do dinheiro para fazer essa lição de casa”, aponta o presidente.
O
economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia, Ricardo
Eleutério endossa o posicionamento, destacando que o INSS não é suficiente para
garantir segurança financeira no futuro. “No mundo todo, quando as pessoas se
aposentam, a renda tende a declinar. Então, é importante ter outras fontes de
renda para, no período improdutivo, complementar a aposentadoria”.
Entre
as opções para garantir o sustento, Eleutério destaca investimentos em imóveis,
que dão renda de aluguel, em ações e em outros investimentos de renda fixa.
“As
pessoas têm que acumular alguma poupança ao longo da vida para que depois, a partir
da fase do declínio da renda, poder utilizar esses recursos complementando a
renda e mantendo o padrão de vida”, observa.
Para
Gilberto Barbosa, economista da Conceito Investimentos, as mudanças da reforma
da Previdência só tornam mais urgente a necessidade de se preparar. “A forma
que as pessoas têm para fazer isso é poupar durante a vida profissional e
aplicar em investimentos, sejam fundos de investimento a longo prazo, sejam
fundos de previdência. Hoje, há várias opções”, detalha o economista.
“A
regra básica das finanças é tentar viver sempre com menos do que você ganha. É
difícil no Brasil, em que as pessoas têm uma renda média baixa e os custos são
muito elevados”. Ele ressalta que, para quem já está perto de se aposentar e
não se preparou, não há soluções fáceis: é cortar gastos e tentar complementar
a renda de outras formas. “É uma situação muito desconfortável, que deve servir
de exemplo para quem está começando a poupar”.
Novas
regras
Parte
do planejamento financeiro para a aposentadoria também deverá levar em conta as
novas regras de transição da previdência que serão apresentadas ao Congresso
Nacional na próxima semana pelo Governo Federal. As diretrizes trazem três
opções para que o contribuinte se aposente pela condição do tempo de contribuição.
As
pessoas poderão escolher seguir um modelo que estipula a idade mínima inicial
em 56 anos para mulheres e 60 para homens, em regime de progressão, ou pagar um
pedágio de 50% sobre o tempo que resta – caso falte apenas um ano de
contribuição, por exemplo, é preciso contribuir por mais seis meses.
A
terceira opção leva em conta a pontuação que soma a idade com o tempo de
contribuição, que hoje deve atingir 86 pontos, caso seja mulher, e 96 pontos se
for homem. A proposta prevê a alta de um ponto a cada ano até os limites de 100
para mulheres, a partir de 2033, e de 105 para homens, em 2028. (Diário do Nordeste)
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