Na parede, se repetem figuras que se assemelham à ave tuiuiu. O local tem mais de três mil anos. FOTO: ANTONIO RODRIGUES |
Com
área de 8,3 hectares, o Sítio Arqueológico fica a cerca de 20 quilômetros da
sede do Município do Crato e está a 800 metros de altitude. Há três décadas, o
local é pesquisado pela Fundação Casa Grande, de Nova Olinda. A expectativa inicial
era que todo levantamento fosse concluído até junho para ser apresentado na
Conferência Global de Geoparques, na Itália, junto com a candidatura de mais
dois geossítios: Levadas de Água e Caldeirão da Santa Cruz. Todos no Município
do Crato. Isso não aconteceu.
"A
nossa ideia era que avançasse bem mais. Mas já foi feito todo o levantamento
topográfico, definição das trilhas. Os totens que identificam o ambiente serão
colocados. Isso ainda está em projeto. O inventário geológico está pronto.
Faltando alguns detalhes", explica o diretor-executivo do Geopark Araripe,
Nivaldo Soares. Além disso, a propriedade, que é particular, terá que ser
estruturada para receber os visitantes. "Eu não me arriscaria a dizer uma
data. A gente pretende que isso seja reconhecido ainda neste ano por uma série
de questões junto a Unesco, mas existe o interesse de todo mundo. Até o fim do
ano, queremos deixar isso pronto", completa Nivaldo.
Próximo
passo
Após
a aprovação, a expectativa é que, a partir de um projeto com o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), haja investimentos para
melhorar o acesso, sinalização e divulgação de Santa Fé. Algumas atividades com
as comunidades do entorno devem ser realizadas para instruir os moradores a
fazer uso do espaço com geração de emprego e renda, a partir da recepção de
visitantes e artesanato. Outras possibilidades podem ser o turismo sustentável
e rapel.
Descobrimento
A
arqueóloga Rosiane Limaverde - já falecida - conheceu o Sítio Arqueológico em
1980 e logo se interessou pelas gravuras, que possuem características
singulares de quaisquer outras da região. O que chamou atenção é que na rocha
há uma incisão e, posteriormente, se aplicou uma tinta. Acredita-se que estes
registros têm mais de 3.100 anos. "Pela técnica, altitude e tipo de
grafismo, Santa Fé é um sítio que se mostra muito mais antigo. A vertente
norte, na qual está incluído, é o trecho mais avançado para o vale do
Cariri", pontua a arqueóloga Heloísa Bitú, que também pesquisa sobre o
local.
Apesar
do grande valor arqueológico, já que é um dos principais sítios do Cariri, o
Geopark incluirá Santa Fé também pela sua formação geológica, que apresenta
pacotes de arenitos.
"Têm
aspectos visuais interessantes. Até panorâmico, pode ser considerado relevante.
Lá é área de encosta que apresenta desenhos que podem ser considerados como
bordados. A formação Exu, em si, favorece essas questões", descreve
Nivaldo.
Outros
candidatos
Além
de Santa Fé, outro geossítio deverá ser criado no Caldeirão da Santa Cruz do
Deserto, antiga comunidade rural que foi destruída em 1937 pelas Forças Armadas
e pela Polícia Militar. O Governo Federal temia que o lugar se tornasse um
movimento messiânico.
Localizada
a 33 km da sede do Crato, entre os distritos de Monte Alverne e Dom Quintino, a
área foi abrigo de centenas de flagelados da seca, devotos do Padre Cícero, que
encontraram na comunidade alimentação, trabalho e refúgio espiritual sob a
liderança do beato José Lourenço.
O
terreno é de propriedade da Prefeitura de Crato, por isso, o levantamento do
perímetro está sendo feito pela gestão municipal.
A
partir dele, os técnicos do Geopark Araripe começarão a trabalhar o inventário
geológico. "Aí, podemos fazer o mapa, que é cheio de detalhes",
justifica Nivaldo. A equipe está pronta, aguardando o estudo. Além disso, se
discute que o local se torne uma unidade de conservação.
Embrionário
O
último possível geossítio a ser criado será batizado de "Levadas de
Água", que estará localizado em uma trilha entre os sítios Coqueiro e
Nascente, no Crato. As levadas de Barbalha e Porteiras também poderão fazer
parte do roteiro. "Mas a gente não avançou em nada. Há uma série de
questões. Está na ideia. Poucas coisas foram escritas, houve apenas visitas de
campo. Tudo ainda preliminar", completa Nivaldo.
Atuação
relevante
Criado
em 2006, o Geopark Araripe está presente em seis municípios da região do Cariri
e hoje possui nove geossítios. O projeto de desenvolvimento territorial faz
parte da Unesco e sua gestão é feita pela Universidade Regional do Cariri
(Urca). Este território esta inserido em uma região caracterizada pelo
importante registro geológico do período Cretáceo, com destaque para seu
conteúdo paleontológico, com registros entre 150 e 90 milhões de anos.
Os
geossítios são a Colina do Horto, em Juazeiro do Norte; Cachoeira de Missão
Velha e Floresta Petrificada do Cariri, ambas em Missão Velha; Pedra Cariri,
Parque dos Pterossauros, Pontal de Santa Cruz, em Santana do Cariri; Batateira,
em Crato; Riacho do Meio, em Barbalha e Ponte de Pedra, em Nova Olinda. (Diário do Nordeste)
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