Artistas do Cariri "Bixaskipixa" pintam as ruas
de Fortaleza com
imagens não estereotipadas. FOTO: José Leomar
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De
maneira despretensiosa, o grupo surgiu no início de 2018, quando pintaram
juntos um muro na Colina do Horto, em Juazeiro do Norte. Ao finalizarem,
Charles assinou "Bixaskipixa" e o coletivo nasceu naquele momento,
visando “se inserir no circuito da arte urbana, um meio que é extremamente
heteronormativo”, como afirma.
Recepção
positiva
Vilda
Carvalho tem 73 anos e é a dona da casa na qual o coletivo tem produzido. A
moradora dispôs seu muro para o festival e declara ter ficado muito satisfeita
com o trabalho, tanto do Concreto, quanto do "Bixaskipixa". “Trabalho
maravilhoso e que, até agora, não tinha chegado nessa parte da Praia de
Iracema.”
Os
moradores da região também têm se mostrado acolhedores, auxiliando os artistas
no armazenamento de material e com alimentação. “Eles tão sendo mesmo muito
receptivos e é muito massa se sentir acolhido nesse âmbito, porque normalmente
espera-se que seja aquela reação adversa”, contam os pintores.
Porém,
deixam claro o seu propósito: “É pelos nossos corpos estarem assumindo esse
lugar de poder, porque no dia a dia o que a gente ouve, geralmente, são piadas
homofóbicas e falta de respeito.”
Linguagem
artística
Charles já havia participado individualmente na edição de 2017 do festival. FOTO: José Leomar |
Apesar
de trabalharem coletivamente há quase dois anos, a trajetória individual dos
artistas tem muito mais tempo. Desde a infância, o contato com o desenho esteve
presente. Porém, suas produções acabaram se aperfeiçoando quando os jovens
tiveram uma maior aproximação com a arte urbana e com eles mesmos.
“Entendo
o meu fazer como um fazer artesanal. Eu prezo por isso de fazer com as mãos e é
de onde eu banco meu rolê. Sou artista profissional, eu mesmo que assino minha
carteira”, diz Charles Lessa.
Neste
mês de novembro, o "Bixaskipixa" está participando, pela primeira vez
como grupo, da sexta edição do Festival Concreto, projeto que procura trazer
essa arte marginalizada para a centralidade, por meio de exposições,
intervenções, oficinas e palestras com grafiteiros nacionais e internacionais.
Charles,
que já havia participado individualmente na edição de 2017 do festival, afirma
que a experiência de estar em coletivo traz muito mais força e liberdade para o
movimento. “Estou me sentindo mais livre, mais espontânea, inclusive até para
usar o artigo no feminino, usar meu chapéu rosa. Não ficar me prendendo em ser
o que sou”, conta. E Caju complementa: “A gente é a primeira crew (equipe,
grupo) de bichas no Concreto. E eu acho muito importante isso porque a gente tá
na rua, fazendo arte todos os dias”.
Com
formas corporais diversas e cores intensas, o coletivo está no processo de
montagem de um mural que reúne os diferentes estilos dos artistas em um mesmo
objetivo: a desconstrução. “O que a gente pretende com nosso trabalho é a
diversidade, tanto no ato da gente pintando, quanto na pintura que vai ficar
depois. A gente faz imagens mais parecidas com os seres humanos mesmo. Os
corpos, os rostos, as deformidades, enfim, tudo o que o ser humano tem de
verdade”, explica Gabriel.
O
trabalho “carrega a poética de cada uma”, como elucida Charles. Ao mesclar suas
figuras pop com as referências afroindígenas de Gabriel Indjo e a abordagem
étnica-urbana de Caju, eles buscam fazer com que suas linguagens e personas
interajam entre si.
Ao
explicarem o conceito do mais recente projeto, instigam uma reflexão bastante
atual: “É uma construção que surge coletiva e depois a gente vai enxergando
narrativas dentro daquele layout que a gente criou. Essa do Concreto, por
exemplo, é o surgimento de uma deusa indígena, representada por essa figura
centralizada, e as outras duas representam esses seres conservadores que ainda
existem nesse planeta. Às vezes, acho que a arte é até bem literal”. (G1 CE)
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