Nomes das vítimas foram escritos nos muros do edifício.
FOTO:
Halisson Ferreira
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Na
memória, o espaço que a dor ocupa pode ser suavizado com homenagem. Com isso em
mente, o tatuador e grafiteiro Edinardo Lucas, de 38 anos, responsável pelo
Coletivo Lápis de Lata, resolveu homenagear as vítimas do Edifício Andrea,
que desabou no dia 15 de outubro no Bairro Dionísio Torres, em
Fortaleza, causando a morte de nove pessoas. Com frases e desenhos feitos
nos muros erguidos ao redor de onde estava o prédio, familiares e moradores
observaram o local ganhar um colorido especial neste último fim de semana.
A
intervenção começou no sábado (16), com a pintura do muro de azul e, no dia
seguinte, foram escritos os nomes das vítimas que morreram no desabamento e
desenhados pombos, flores, um bombeiro com asas e versículos bíblicos.
Para
a homenagem, em que também foram lembrados os bombeiros que se dedicaram por
103 horas até a conclusão dos trabalhos de resgate das vítimas, o próprio artista
comprou o material e convidou dois amigos. “Andando no meu carro, resolvi
passar pelo local e vi que a Prefeitura tinha feito um muro, só que estava
cinza. Aí foi quando eu decidi fazer uma mensagem de conforto para os
familiares porque no local ficou aquela tristeza”, revela Edinardo sobre o que
lhe motivou.
O
artista conta que, na ação, esteve presente a familiar de uma das vítimas. “No
momento em que ela foi (ao local) ela começou a orar e chorar. Eu vi que
realmente a minha ideia estava tendo efeito e mexeu com alguém. É isso o que
vale”, conta.
Vizinhança
Transitando
diariamente pela Rua Tibúrcio Cavalcante, a administradora Letícia Peixoto, de
28 anos, que mora nos arredores do local, reflete sobre a iniciativa de forma
emocionada. “Eu acho que a primeira impressão é a de comunidade, sabe? Eu acho
que todo mundo se solidarizou, cada um fez a sua parte”, recorda-se sobre o
trabalho nos escombros do edifício. Letícia viu a mobilização de
solidariedade que os voluntários criaram e que foi reforçada pela
homenagem nos muros. “Agora o sentimento é um pouco ainda de tristeza, mas
também de esperança de que isso vai passar. Esperança no ser humano, de que
ainda tem gente que se importa e que ajuda uns aos outros”, conclui.
A
pensionista Maria Sula Gonzaga, de 76 anos, contribuiu com o trabalho dos
agentes e dos voluntários que utilizavam sua casa como abrigo durante o
resgate. “Aqui foi ponto de apoio para o pessoal todo. Era banheiro, era água,
vinham almoçar bombeiros e a polícia. Até as 3 horas da manhã a porta estava
aberta num entra e sai”, recorda. Sobre a pintura, ela analisa como algo
“bonito e triste” e sugere que se preencham todos os muros do terreno.
Edinardo
explica que não tinha dinheiro suficiente para concluir a pintura em todos os
muros, mas que já foi procurado por pessoas interessadas em ajudar com a compra
de tintas. “Ontem (domingo) durante a pintura, uma moradora de lá (vizinhança)
chegou a nós e perguntou ‘vocês vão pintar aquela parte lá?'” Ao falar sobre a
falta de dinheiro, a moradora disse que iria contribuir porque a ação trouxe
conforto para a vizinhança.
(G1 CE)
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