Geraldo Freire em sua oficina de relógios em Juazeiro do
Norte. FOTO: George Wilson
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Seu
Geraldo Freire já é bastante conhecido na praça, e possui mais de 50 anos no
ramo da construção de relógios especificamente para ornamentar torres de
edifícios na região, principalmente nos religiosos. Recentemente incumbido de fazer a
restauração do relógio da Coluna da Hora da Praça Padre Cícero,
no centro de Juazeiro, o senhor de 80 anos demonstra total vitalidade em
trabalhar neste complexo trabalho, e ainda tornar visível o histórico de cada
equipamento que passa por suas mãos.
FOTO: George Wilson |
“Esse
negócio de fazer relógio foi um chamado do Padre Cícero. Estava na base Aérea
de Fortaleza, queria fazer carreira lá, mas acabei retornando. Se não tivesse
vindo talvez esse negócio tivesse acabado há muito tempo”, conta ele.
Segundo
o relojoeiro, experiente em tornearia, o “dom” para a construção, manutenção e
restauração de relógios de grande porte veio desde quando o patriarca
juazeirense reverenciou o chamado de um cidadão, na época conhecido como
Pelúcio Correia de Macedo, vindo este a ser o grande construtor e responsável
pela instalação dos relógios hoje localizados na Igreja Matriz de Nossa Senhora
das Dores, da Coluna da Hora e tantos outros.
Após
a morte de Padre Cícero, a Congregação Salesiana em Juazeiro do Norte veio a
tomar posse de todos os bens deste, inclusive a oficina do qual iniciou o
primeiro relojoeiro a construir equipamentos para torres de relógio na região.
Seu Geraldo veio a receber convite, ainda jovem, para aprender a construir os
maquinários nesta oficina e posteriormente praticar na oficina herdada de seu
pai, que era ferreiro.
Oficina
do relojoeiro Geraldo Freire
“Muito
se tinha de conteúdo na oficina desse cidadão Pelúcio, mas depois que vieram
tomar de conta o acervo dela foi desfacelado. Muitos dos equipamentos foram
levados para Recife, máquinas vindas da Europa que eram verdadeiras peças de
museu. Na época era coisa de primeira. Depois disso ficou só na lembrança”,
lembra seu Geraldo.
Ele
lembra ainda que sua produção não se restringiu ao Cariri, mas a diversos
locais do Estado e do país. O relógio piloto, usado por ele para fabricar todos
os outros, lembra que foi enviado ao sertão central do Ceará, na região do
Riacho do Sangue, município de Jaguaretama.
FOTO: George Wilson |
FOTO: George Wilson |
O
primeiro deles construído totalmente do zero, que deu início a sua produção em
larga escala, foi para a torre de relógio de uma igreja em Mossoró no Rio
Grande do Norte. Ele lembra que fez e instalou equipamentos em outras regiões
do país, como no município de Cardoso Moreira, no Rio de Janeiro, e outro em
Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal.
No
Cariri, além de ser responsável pela restauração dos relógios das principais
paróquias de concentração religiosa durante as romarias em Juazeiro do Norte
(com exceção do relógio da torre do Santuário de São Francisco das Chagas),
assim como o da Coluna da Hora da Praça Padre Cícero (que também possui
indicador de fases da lua), seu Geraldo construiu do zero os relógios da
Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no bairro São Miguel, fez o primeiro projeto
do relógio da Capela do Socorro, fez o relógio da Paróquia de Santo Antônio no
município de Araripe e o relógio de seis faces da torre da Igreja de São
Francisco no Crato, o primeiro do mundo com esta característica, assim como o
relógio da Praça Cristo Rei, na mesma cidade.
FOTO: George Wilson |
“Todos
estes que construí me marcaram, e por isso dou valor a cada um deles. Faço
questão de não só colocar mas também fazer um histórico citando Padre Cícero, como
foram feitos e como foram implantados na cidade. No processo a gente só não faz
o ferro, mas se faltar o bronze a gente faz a liga do bronze”, afirma seu
Geraldo, ao lembrar de suas produções.
Mesmo
com a idade, ele se diz bastante vívido para mexer em todo o maquinário. Tanto
esbanja saúde e aptidão para sua oficina que dispensa a contração de terceiros,
ao menos até segunda ordem.
“Faço
tudo aqui sozinho, porque a gente sabe que hoje em dia não tem quem dê muito
valor a esse tipo de mecânica de relógios com esse formato que ele é feito. Mas
quando é preciso e a demanda é grande eu chego sim a contratar alguém para me
ajudar”, completa.
Ao
lado se sua mulher e com apoio de seus sete filhos, um deles o artista e cantor
caririense Junú, seu Geraldo diz que deve sua astúcia e vitalidade aos
preceitos do patriarca da região, que segundo ele tanto nos ensinou a fazer do
Juazeiro e do Cariri algo além de seu tempo.
FOTO: George Wilson |
“Padre
Cícero era um cara futurista, ele não dava peixe, mas a rede para o cara
pescar. Foi assim que muita gente construiu a história dessa cidade e do
Cariri. Se não fosse ele o Juazeiro não seria nada do que é hoje”, conclui.
(Fonte:
Site Badalo)
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